segunda-feira, 2 de abril de 2012

Caras jabuticabas


Nunca esqueci o dia em que cruzei com aquele serzinho. Serzinho este que me fez gelar em pleno sol acreano de meio-dia, que por aqui se exibe mais cedo, e calor de abafar bom humor. Ida pro trabalho, terminal de ônibus lotado e me deparo com aqueles olhinhos. Duas jabuticabas de brilho intenso fugidas do pé a me observar atentamente e me invadir a alma. A me estudar de forma minuciosa - um estudo rigoroso que ia além dos traços do rosto, harmonia da face, disposição entre boca, nariz, olhos ou queixo. Nada parecia escapar. Meus defeitos, qualidades, desejos, medos, angústias, dúvidas e certezas. Estava tudo lá, estampado no reflexo daquele olhar fixo e atento da mocinha em miniatura cujo nome nem sei. São tão completas e inteiras essas pessoinhas que a gente insiste em chamar de pedaço. Pedaços de gente, pedaços da gente... O franzido de sua testa não lhe deixa esconder o estranhamento natural de quem se depara com o desconhecido e faz força pra compreendê-lo. Me senti despida de qualquer máscara, dessas que se usam eventualmente para se esconder de julgamentos alheios. No final, um sorriso. Um sorriso breve e sincero de aprovação como quem dizia "te vejo inteira e gosto". Pôs a mãozinha na boca, deitou a cabeça nos ombros da mãe que lhe beijou a testa e sumiu. Sumiu entre a multidão em polvorosa ao ver o ônibus chegar. Sumiu do breve momento daquele contato único. Por não se repetir. Por ser raro e caro de se lembrar.










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